Saúde mental no puerpério: um olhar psicanalítico sobre o cuidado com a mãe
- Katia Nuno
- 17 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de out.

Um novo começo que transforma tudo
O nascimento de um bebê costuma ser descrito como um momento de alegria e amor. Mas para muitas mulheres, ele também vem acompanhado de uma série de sentimentos complexos medo, culpa, exaustão, solidão e até tristeza.
Essas emoções fazem parte do puerpério, o período que vai do parto até cerca de 40 dias após o nascimento, quando o corpo e a mente da mulher passam por intensas transformações.
Na psicanálise, esse momento é visto como um tempo de reorganização psíquica, onde a mulher precisa se reconstruir emocionalmente para se reconhecer como mãe sem perder de vista quem ela é.
O que acontece com a mente no puerpério?
Durante a gestação e o pós-parto, há uma revolução hormonal e emocional. A mulher deixa de ser apenas “filha” e passa a ocupar também o papel de “mãe”, o que ativa lembranças inconscientes, expectativas, medos e até antigas feridas emocionais.
Pesquisas recentes mostram que esse processo é mais delicado do que se imagina:
Um levantamento da Pesquisa Nascer no Brasil II (2023) revelou altos índices de sintomas de ansiedade, depressão e estresse em puérperas.
Estudos da Universidade Estadual de Londrina (2022) reforçam que o apoio emocional e o autocuidado reduzem significativamente o risco de depressão pós-parto.
Revisões da Revista Saúde Coletiva (2021) apontam que o autocuidado é essencial para prevenir transtornos mentais e fortalecer o vínculo mãe-bebê.
Esses dados mostram que cuidar da saúde mental no puerpério é tão importante quanto cuidar do corpo.
Um olhar psicanalítico sobre o puerpério
Do ponto de vista da psicanálise, o puerpério é um território emocional onde o inconsciente se manifesta com intensidade. A maternidade pode despertar tanto o amor mais profundo quanto sentimentos ambivalentes e tudo isso é humano, legítimo e merece escuta.
1. O corpo em transformação
O corpo muda, e junto com ele, a forma como a mulher se vê. Muitas se sentem desconectadas da própria imagem ou culpadas por não “voltarem a ser como antes”. A psicanálise convida à aceitação gradual, reconhecendo o corpo como parte viva da nova identidade que está se formando.
2. Conflitos de identidade
A mulher não deixa de ser profissional, companheira, filha mas agora precisa incluir o papel de mãe em sua narrativa. Essa sobreposição de papéis pode gerar culpa, cansaço e sensação de inadequação. O processo psicanalítico ajuda a elaborar esses conflitos, para que a mulher possa se sentir inteira novamente.
3. Vínculo e imperfeição
O amor materno idealizado é uma armadilha. O vínculo com o bebê não nasce pronto ele é construído, todos os dias, no contato, no olhar, nas tentativas. Ser uma “mãe suficientemente boa”, como dizia Winnicott, é mais do que suficiente.
Como saber se é hora de buscar ajuda?
Alguns sinais merecem atenção especial:
Tristeza persistente, choro frequente ou sensação de vazio
Falta de prazer em atividades cotidianas
Dificuldade para dormir, mesmo quando o bebê descansa
Pensamentos de culpa, incapacidade ou medo constante de “não ser boa mãe”
Irritabilidade extrema ou vontade de se isolar
Se esses sintomas se prolongarem por mais de duas semanas, é fundamental procurar um psicólogo ou psicanalista especializado em maternidade.
O tratamento precoce faz toda a diferença na recuperação emocional.
Práticas de autocuidado no pós-parto
O autocuidado é o primeiro passo para restaurar o equilíbrio entre corpo e mente. Não precisa ser complexo — o importante é criar momentos de pausa e presença.
1. Escute a si mesma
Reserve alguns minutos do dia para se perguntar: “Como estou hoje?”. Escrever, chorar, respirar fundo — tudo isso ajuda a liberar emoções acumuladas.
2. Aceite ajuda
Permita que outras pessoas cuidem de você também. Delegar tarefas não é fraqueza, é sabedoria.
3. Cuide do corpo com gentileza
Alimente-se bem, durma quando possível, faça caminhadas leves e tome sol. O corpo é o espelho do emocional.
4. Conecte-se com outras mães
Trocar experiências ajuda a normalizar sentimentos e reduz a solidão. Procure grupos de apoio materno, presenciais ou online.
5. Cultive autocompaixão
Não existe “mãe perfeita”. O amor verdadeiro é aquele que também se permite descansar, errar e recomeçar.
Cuidar da mãe é cuidar do bebê
A sociedade costuma concentrar toda a atenção no recém-nascido mas o bem-estar emocional da mãe é o alicerce para o desenvolvimento do bebê. Cuidar da mulher é investir na saúde da família inteira.
Por isso, se você está vivendo o puerpério, lembre-se:
não é fraqueza pedir ajuda, é um ato de amor.
você não está sozinha há profissionais prontos para acolher sem julgamento.
você não precisa ser perfeita apenas presente, consigo e com seu bebê
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